sexta-feira, 26 de março de 2010

MISTÉRIO DOCE

Gosto do gosto que vem oculto

Na magia mágica escondida

No gosto misterioso e fruto,

Do mágico mistério da vida.


Digo gosto, é pois porque me encanto

De encantamento, me deleito

Surpresas, o novo, o velho, espanto

Fundo calam dentro do peito.


Revela-se a vida, na noite, no dia

A cada hora, naturalmente

Assim como doce poesia.


Um paradoxo de doce e amargor

Na fé que move, fel se torna mel

Lambuza a alma, chama-se agora, amor.

SEGREDOS CALADOS

Não perguntarei coisas que não saibas,
Nem tampouco sobre coisas que não creias.
Não perguntarei sobre o tênue fio ligante,
Da lúcida consciência e a consciente loucura,
Tão íntimas, que de ti fazem teu próprio rei.

Não perguntarei sobre a tua sapiência,
Nem tampouco se importa o teu saber.
Da tua sabedoria, só o que interessa,
Se és sábio, se buscas sempre entender,
Onde habita a parte mais simples de ti.

Não perguntarei sobre o rio que nasce,
Que às vezes escorre dentro de ti,
Nem tampouco por onde deságuam as águas,
As calmas ou as caudalosas que escoam,
Ou ora represam-se dentro de ti.
Do rio, da água que corre, só o que interessa,
Que a ti, ora irrigam, ora inudam,
Trazem o feitio, tão próprios de si.

Não perguntarei do que vem do teu âmago,
Do imerso que subitamente emerge,
Do leitor do mundo à tua volta,
Tampouco do teu próprio mundo interior,
Que livre, lês, interpretas como bem entender.
Nem se por vezes esta “leitura” do mundo,
Indigna-te tanto, se te rebelas e gritas,
Mesmo que, nem sempre teu grito se faça ouvir,
Neste tão surdo mundo, às vezes cego,
Que não escuta e não vê a tua ânsia ousada,
Tomando o lugar da tua simplicidade.


Não perguntarei onde nasce o teu sol,
Se o calor que emana dele ainda te aquece.
Se será fértil a terra, quando vier a chuva,
Nem tampouco se o céu que te cobre,
De azul ainda colore o ar e deixa voar a ave.
Se a terra lavrada e molhada por chuva,
É teu deserto ou teu solo fecundo.

Não me suponhas farta e contentada,
Sem perguntar e da resposta ignorada.
Néscio! Ainda resta-me muita ambição.
Perscrutar tua alma, entender teu coração,
Guardar teus segredos e torná-los meus,
O céu e a terra como eternos cúmplices.

MEMÓRIAS E QUIMERAS



Acontece no mundo dos sentimentos

O coração parece querer sair pela boca

Lembranças, inesquecíveis momentos

Restam dos beijos, o gosto

Da pele e do pelo, a textura

Das palavras doces, o som

Do encontro dos corpos, o aroma

Misturam-se prazer e saudade

Das memórias que tenho de ti

Minha mente esforça-se, endoidece

Meu corpo clama pelo teu em chamas

Minha ternura floresce, a alma enternece

Das tantas carícias, tão doces, sutis

Mulher, fêmea, menina, em todas, amante

Emoções sacadas das entranhas

Dormentes, hibernantes, esquecidas

De súbito emergem, paixão, explosão

Ai que saudades do que tive!

Tão bem na memória guardo a ti.

Sonhos, realidade, hoje de novo quimeras

Amadurecidas ideas de ti e de mim

Não fazem sofrer, antes, acariciam

Dois corações, cientes de si

Aconchegam-se, se enlaçam

No terno abraço, num doce beijo

Das memórias que guardaremos

Eternamente...

Eu de tu e tu de mim.

quarta-feira, 17 de março de 2010

PERCURSO DO BEIJO

Beijo-te os olhos cerrados
Uma brisa quente que te afaga,
Minha respiração ofegante,
Minha face tão perto da tua,
Pousam suaves em teus lábios, os meus,
E no impulso que a alma instiga,
Os lábios se abraçam e se sugam,
Sofregamente, se embriagam,
Do néctar do hálito teu,
Do mel do desejo meu,
Sabores do beijo molhado,
Misturam-se no ápice da loucura,
Desencadeiam outros loucos beijos,
Percorrendo o mapa que te desenha,
Enquanto sondas cada canto do meu.
Inebriantes perfumes exalam,
Suaves músicas entoam,
Sibilos arfantes, gemidos e ais,
Calores intensos ardem a pele,
Culminam em suores e seiva,
Do cume dos prazeres insanos,
Extasiados os corpos desfalecem,
Mergulhados na breve inércia
Inerente ao pós deleite do amor.
Após breve descanso, outro beijo,
Feito de carícia, ternura e afeto,
Relaxa e embala o sono,
Deixa a certeza e o desejo,
Serão muitas noites de amor

NOITES COM LUA

Falta a luz da lua na noite escura
Privada do seu brilho, é longa a noite
Cada minuto parece infinito
Na eterna espera que amedronta
Medo da sombra que desaparece
Que teima esconder teu másculo corpo
Que tira de mim a tua imagem
Que teimo em querer tatear
Para sentir passo a passo
O contorno de todas as linhas
Na provocação do meu toque
Sentir nascer cada ressalto
Viro-me na cama, no travesseiro
Procuro o que a lua ausente me oculta
O vazio é nada, é silêncio e escuridão
É dor, é ausência que se sente
É como noite sem lua, a solidão.
Quero, um luar todo e só meu
Que seu clarão faça da minha sombra
A imagem desenhada do seu sonho
E com seu brilho projetar a sua
Que nos meus sonhos arquiteto
A noite com luminosidade, é sonho
É afeto que faz sorrir, carinho que abriga
É paz, serenidade que me dá segurança
É ninho, lar do meu aconchego
Onde me aninho, resido e desejo
Quero só noites com lua, com calor
Quero um luar nas minhas noites
Quero mãos que afaguem a minha face
Quero singeleza e afeto, toda ternura
Quero carinho puro, no riso e na dor
Minhas mãos ao alcance das suas
Entrelaçadas num gesto ingênuo
E no calor que elas emanam
Incendiar os corpos que clamam
Por labaredas de intensas chamas
Que fazem arder os desejos
Quando preciso apenas de amor
Quero que seja minha lua
Vagando na minha noite
Não faças rotação ou translação
Nunca deixe escuro, nenhum lado de mim
Faça como o sol, ilumina-me
E então viveremos de luz
A noite que é vida e a lua o amor.

sexta-feira, 5 de março de 2010

CALOR DO ABRAÇO

Braços que se estendem
Se curvam e cingem
Do peito se acercam
E os corpos se fundem

Do aconchego e calor que ofertam
Os abraços fraternos, amigos, amantes
E no sublime prazer que despertam
São belos e únicos momentos marcantes

É no abraço amigo que se encontra
Um porto, de alegria e de desalentos
O riso garante, para lágrimas, cura pronta
Na simbiose perfeita dos sentimentos

No elo que ata o amor à compreensão
Abraço fraterno é solidariedade
Afeto doado em um aperto de mão
Caminho tão certo para a felicidade

No frêmito que faz arder o desejo
Os corpos chamam ardentemente
Abraço amante, doce ensejo
De possuir e amar loucamente

Nas dores regadas de pranto
Nas alegrias ornadas de amor
O abraço é essencial acalanto
Ternura, afeto, exalando calor

Ai...ai! Que delícias de abraços
Suscitam na alma, a calmaria
Sustentam e estreitam os laços
Sem abraços tão fortes, morreria!

Piracema, 28 de fevereiro de 2010
Celêdian Assis

LÚCIDA LOUCURA

Que fazem ali os seres em par
Que nunca se viram, oxalá se verão
Afinidade do encontro exala no ar
Num momento de encanto amam se amar
Tamanha loucura e de tal dimensão
Entre os lábios no beijo, o oceano
Fantasia a alma, desejos do coração
De súbito a ausência, louco, insano!
Calor que aumenta, cresce a loucura
Dos corpos distantes, emanados
Fluidos de amor, ais com ternura
Agora tão perto, assim abraçados
Brisa morna chega como toque sutil
Toca a face e nos olhos cerrados
Respira ofegante, torna febril
Freneticamente desrritimados
Sorrisos tão meigos mostram desejos
Atravessam o espaço, esquece a distância
Do chocolate o gôsto, na delícia dos beijos
No vermelho eclode paixão, o êxtase, a ânsia
Muito além, arde em chamas um olhar
Da face da terra nada se avista
Os mares nunca antes navegados
Agitam-se em fúria, na loucura de amar
E na louca lucidez do momento
Onde estás que não te vejo?
Breve um lúcido tormento
Acorda, é sonho, é só desejo!
Celêdian Assis

quinta-feira, 4 de março de 2010

MUITO PRAZER!

Eu, você e eles, somos nós,
Que nunca estamos sós,
Que fazemos da alegria e do júbilo, oração,
Motivo maior de nossa canção.
Desfazemos a tristeza, desatando nós
E na poesia encontramos a redenção

As palavras fluem como ornamentos
Enfeitando com arte até o obscuro,
O núcleo do ínfimo,
Das profundezas do ser, em sentimentos
Que gritam ou calam em nosso íntimo,
Desabafos sinceros por sobre o muro.

Sacadas do fundo, afloram-se percepções,
As mais autênticas sensações.
Inspiradas na fonte inesgotável e profunda,
Transformando em hinos da alma, ou belas canções,
A dor ou o amor que transborda e inunda,
Por sobre todas as sanções.

Entre fascínio e êxtase, delírios da emoção,
Inspirados na incansável vastidão,
Em versos ou prosas, brotam eloquentes,
Das malhas finas tecidas entre a loucura e razão,
As fantasias da mente, dos sonhos dormentes,
Dos desejos mais que arguentes.

Encanta a quem vê com olhos atentos,
Com sentidos sedentos,
O fruto da fonte que nos aguça a percepção,
Que flui envolto em certa devoção,
Sendo a cura dos males da alma e dos desalentos
Que busca tocar com leveza e magia, o coração.

Alegra-nos não só o reconhecimento.
Como a identificação,
Bem como a reação,
Da arte que alimenta mais que pão
Que faz querer derrotar o dragão
E sair espalhando nosso sentimento

Somo assim:
Abusados,
Alterados,
Por vezes, transtornados,
Outras, embasbacados...
Somos a um só tempo múltiplos
E únicos!
Engajados,
Revoltados.
Tão noturnos,
Quanto diurnos.
Somos pretensamente despretensiosos
Evolutivamente ambiciosos:
Evangélicos,
Esotéricos,
Judeus,
Ateus,
Cristãos,
Pagãos,
Muçulmanos,
Presbiterianos,
Espiritualistas,
Ocultistas,
Maçons,
Ah! Como são singelos nossos sons...

Somos movidos a paixões.
Somos cônscios dos nossos desvãos,
Das nossas carências,
Das nossas adjacências...

Um pouco incertos,
Somos extremamente modestos...
Diletantes!
Ah! somos apaixonantes...!

Acreditamos no poder máximo,
Ávido,
Do inconfundível ardor,
Que vem do Amor...

Tanto tradicionalistas,
Quanto vanguardistas,
Somos cria da matéria prima da tarde.
Do bom que arde.

Da arte!

Escrevemos para encontrar sentido
E, principalmente para continuarmos vivos,
Ativos
E com um necessário brilho.

Queremos não só desabafar,
Encantar,
Protestar...
Queremos fazer desabar,
Tudo o que impede a evolução de raiar.
Queremos ver a humanidade despertar,
Para poder despontar,
Frutificar
E florescer.
Queremos enternecer!

Somos mais que abolicionistas,
Somos Recantistas!


Celêdian Assis & Cláudio Santos


NOTA: Recantistas são os poetas e escritores do site Recanto das Letras.